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  • Gleisson Brito

Tabagismo, morbidade e mortalidade: Estilo de Vida ou Genética?


Meio porcento dos fumantes vão a óbito por causa do tabagismo, e menos de 0,2% desenvolvem câncer de Pulmão.


Porque? Estilo e vida ou Genética?


Um dos grandes debates contemporâneos a respeito da saúde humana versa sobre as relações entre a genética e o estilo de vida na etiologia das doenças.


O estilo de vida ganhou grande importância no discurso científico nas últimas décadas, constituindo um dos principais fatores etiológicos na gênese das doenças crônico degenerativas, aquelas que mais contribuem com as taxas mundiais de morbidade e mortalidade.


No entanto, não se pode menosprezar o papel da genética neste processo. De fato, os genes parecem atuar mais como um plano de fundo, um ingrediente essencial mas, na maioria dos casos, não auto suficiente, que entram em ação, ou são ativados ,em determinados contextos.


Vejamos o exemplo do tabagismo: Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o número mundial de fumantes ativos se aproxima de um bilhão. Além destes, estima-se a existência de aproximadamente dois bilhões de fumantes passivos. A mesma OMS informa que, anualmente, morrem aproximadamente cinco milhões de pessoas no mundo, em decorrência direta do tabagismo.


Tomando como base os dados da Organização Mundial da Saúde, e considerando apenas os fumantes ativos, temos que meio porcento (0,5%) dos fumantes morrem em decorrência do cigarro.


Um raciocínio similar pode ser feito em relação ao Câncer de Pulmão, uma das principais morbidades dedorrentes do tabagismo, que é responsável por 90% dos casos deste tipo de câncer. A incidência mundial do Câncer de Pulmão é, segundo o INCA, de 1,8 milhões de novos casos por ano. Assim, ainda que considerássemos todos os casos novos deste câncer como decorrentes do tabagismo, este valor equivaleria a menos de 0,2% do total de fumantes.


Estes dados sugerem que, além do hábito de fumar própriamente dito, outros fatores devem contribuir simultâneamente para as consequências do tabagismo. Acredito que exista uma interação entre fatores genéticos e ambientais na associação tabagismo - doenças - mortalidade, de modo similar ao que vem sendo demonstrado na questão da dependência do cigarro. Um genótipo com maior susceptibilidade às modificações epigenéticas, às conhecidas mutações genéticas associadas ao câncer, ou à outras morbidades. Em outras palavras, o estilo de vida é sim relevante, mas talvez seu impacto seja potencializado em uma parcela da população, como decorrência de um certo perfil gênico. Se demonstrado, este dado poderia auxiliar na explicação do porque "apenas" 0,5% dos fumantes vêm à óbito anualmente, e "apenas" 0,2% desenvolvem Câncer de Pulmão em decorrência do cigarro. Infelizmente o número de investigações a repeito do papel dos genes nas consequências do tabagismo ainda é muito escasso.


Evidentemente, um papel da genética não excluí a necessidade de se considerar outros fatores, incluindo a duração (tempo de uso) e a carga de exposição (número de cigarros por dia), bem como a associação com hábitos alimentares, atividade física e até mesmo os laços familiares, cuja importância vem ficando evidente com o estudo do chamado Paradoxo Hispânico. Além disto, é iportante considerar o acumulado de mortes ao longo dos períodos estudados, a fim de obter um quadro mais preciso.


Finalmente, a palavra "apenas" aparece entre aspas para ressaltar que o dado está sendo analisado em relação ao número total de fumantes. Cinco milhões de mortes anuais decorrentes do tabagismo, com estimativa de que este número se eleve a oito milhões em 2030, de modo algum constituí um dado que possa ser desconsiderado, ou tratado como insignificante. Assim, as informações discutidas aqui não podem ser interpretadas como uma amenização dos impactos do cigarro. O objetivo é destacar a importância de aprofundar nosso conhecimento a respeito da interface genética-estilo de vida, a fim de compreendermos melhor a proporção de morbidade e mortalidade entre fumantes.


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