Encerradas as eleições mais acirradas da história nacional, ânimos ainda acalorados, é hora de diálogo, de conciliação, de união para avançarmos enquanto nação. A decisão está tomada, e o Brasil precisa revigorar a atmosfera de unidade nacional. É mister lembrarmos que o Estado é democrático, que os poderes são independentes. Que nossas instituições são sólidas e resilientes. Que o voto é soberano!
O Brasil é um só, na aspiração por uma nação justa, solidária, fraterna, plural, independente e integrada. E nós, sociedade, devemos primar pela união, pelo civismo, pela cooperação, pela solidariedade, pelo diálogo.
Como já ocorreu em outros momentos de nossa história, as narrativas circulantes que tentam explicar os resultados das eleções nem sempre têm fundamento na realidade. Um caso recorrente é a percepção sobre o papel que as diferêntes regiões do país tiveram sobre o resultado do pleito eleitoral.
Já escrevi sobre o assunto aqui mesmo, em 2014, oportunidade na qual expandi a análise para uma reflexão mais profunda sobre as tentativas de criação de agrupamentos humanos supostamente discretos, a partir de dados biológicos que, em realidade, possuem manifestação contínua.
É comum encontrar nas redes postagens viralizadas agradecendo à região nosdeste do Brasil pelo resultado do dia 30 de outubro. Em outros casos, o tom é de acusação e preconceito. Mas ambas as situações possuem um problema analítico. Partem da avaliação proporcional dos votos em cada estado da federação, abordagem que, na realidade, oculta o impacto do número absoluto de votos regionalmente. Como veremos, a maior quantidade de votos para o candidato eleito não veio das regiões norte e nordeste, mas sim do sul e sudeste.
Segundo o portal do Tribunal Superior Eleitoral, no dia 30 de outubro de 2022 mais de 124 milhões de brasileiros foram às urnas exercer sua cidadania. Destes, mais de cinco milhões votaram branco ou nulo. E ainda, trinta e dois milhões se abstiveram neste pleito. No cômputo final, a diferença entre os dois candidatos ao segundo turno somou pouco mais de dois milhões de votos.
Como resultado da eleição, o candidado Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito o trigésimo nono Presidente da República Federativa do Brasil. Mas, como foi a distribuição de votos nas regiões do país?
Na análise regional, o dado obtido nos informa que a região sul deu mais votos à Lula que a região norte. O mesmo ocorre quando comparamos sudeste e nordeste. De fato, sul e sudeste deram ao candidato eleito aproximadamente 49% dos votos obtidos, enquanto norte e nordeste computam aproximadamente 45%. O restante é a soma da região centro-oeste, próximo de 5,8%, e os votos do exterior, próximos de 0,2%. Analisando apenas o sul, onde mais de 17 milhões de pessoas foram às urnas, o candidato eleito obteve quase 40% de todos os votos.
Evidentemente, é necessário ponderar a densidade populacional de cada região nas avaliações da distribuição dos votos no território. Não obstante, o dado deixa evidente que as narrativas separatistas são construídas em premissas absolutamente falsas.
Não existe no Brasil uma distribuição populacional organizada por perfil ideológico. Não há estados vermelhos ou estados azuis. Representações que caracterizam as regiões da federação pela cor do candidato localmente vencedor não refletem o perfil populacional. Tampouco são capazes de discernir a distribuição absoluta do perfil dos eleitores. Para entender essa distribuição de modo visual, mais úteis são os mapas que apresentam a distribuição do voto em todo o território, pois permitem: 1. Percepção imediata de que o voto em ambos os candidatos está disperso em todos os estados; 2. Detectar onde está a maior densidade de eleitores de cada candidato; 3. Demonstrar de modo cabal que não há qualquer possibilidade de caracterizar regiões do país por perfil ideológico.
O Brasil é plural. É diverso em pessoas, culturas, ideias. Nossa democracia é sólida! Que possamos primar, enquanto sociedade, pela união, pelo civismo, pela cooperação, pela solidariedade, pelo diálogo. Pela unidade na diversidade.
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